segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

I tell you this... I tell you that...

Não interessa mais o que eu fale, posso mudar minha argumentação durante ela mesma. Quem irá dizer que não posso?
Adoro uma estética do dito masculino... Dos chapéus aos ternos bem cortados, como numa cena de um filme antigo, imagino aquele lado menos plumado, menos florido da estética humana. Traços mais angulares que côncavos, formando imagens indescritivelmente militares.
Paradoxo freudiano dessa sociedade fálica, que mistura o desejo secreto pelo masculino e sua representação de poder violento, e a abominação deste mesmo masculino que pode representar a morte, a tirania.
Dualidades dentro do ser. Dualidades que não me deixam ser. Admirações pelo secreto e imundo que o racional e o belo excluem como parte do ideal. Mas nos confrontamos diariamente com essa dicotomia.
Como aquele beco que fede e ao mesmo tempo duela com o hotel de luxo, como se o meio-termo não pudesse existir. Extremos que poderiam ser confundidos com o mesmo lado, dependendo das faces analisadas.
Liberdade e moral caminham lado a lado, como se, para proteger o outro da hostilidade de mim mesmo, tivesse que aceitar uma ética social imposta. O problema é que, muitas vezes, preciso. Como preciso! Agir como um alucinado que se sente independente faz tanto ou menos sentido que seguir essas convenções para proteger os outros de nós mesmos.
Mas como nos protegermos de nós mesmos? Ciclos de auto-sabotagem, que parecem não ter um começo nem fim. Claro, são ciclos. Não adianta buscar respostas nesse vale encantado e ilusório, pois as confrontações tornam-se constantes e evidentes.
Claro, posso sempre mudar de opinião, mesmo quando já a estou defendendo. Mas de que isso interessa se, a princípio, você já não estava entendendo o que queria dizer?

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Capítulo 3

Levanto-me tarde com lágrimas nos olhos. Nesse domingo vazio preciso me libertar, preciso viver. Fado-me a livrar-me das amarras postas pelas minhas escolhas: não mexerei mais naqueles vinis empoeirados. Não pertencendo a ninguém, posso sair dali, deixar tudo que me faz sentir impotência para trás. É o que faço, poupo os detalhes, pois eles se perdem dentro da imensidão finita dos meus minutos que, agora, voltaram a ser meus. Posso respirar e, como uma borboleta que acaba de sair do casulo, explorar aquilo que ainda não havia explorado em sua intensidade.
Me volto a um corpo específico: o meu. Confrontando minha própria visão da realidade, esquizofrênica e individual ao meu modo, me deparo com psicopatologias da vida cotidiana contemporânea. Posso, agora, pensar novamente acerca do mundo. Começo a me encantar e a me reapaixonar por tudo aquilo à qual havia perdido a paixão. Na minha jovialidade inerente consigo descobrir minha maturidade e minha ingenuidade infantilizada que são belas, à sua própria maneira. Visualizo o mundo de forma diferente, dentro de um ideal cinematográfico que chamo de realidade. Fantasio com fetiches filosóficos.
Lembro-me como se fosse ontem um dos primeiros contatos que tivemos. Um bilhete escrito a mão que continha um detalhe que fez toda a diferença, o detalhe que chamou minha atenção: a inicial. Assinar apenas com sua inicial me traz uma idéia de confiança individual, aliada a um mistério cujos segredos são descobertos aos poucos. Desde então, nunca mais pude deixar de me encantar com tais iniciais. A assinatura. Algo que me chama atenção desde o início. Talhar sua marca apenas com sua inicial demonstra uma certa confiança individual, uma certa afirmação de si mesmo para o mundo; o anonimato que se projeta, o mistério e o segredo sendo revelados aos poucos.
Como em um livro de suspense, começo a desejar unir o que é me dado, para compor, dentro dessa união, um novo único que, ao mesmo tempo, já me soa antigo e ultrapassado. Dualidades de um mundo não necessariamente dual, no qual as interações não devem ser forçadas, mas aproximadas respeitando o espaço de colisão. O choque, assim, ganha uma nova dimensão dentro de sua torre, como protegido e reservado como arma forte do revolucionário. A fluidez das palavras ganha novo sentido, dentro do jogo argumentativo para compor uma visão. Nada é descartável, nada é fundamental. Quero tudo, tudo agora, tudo rápido, tudo ao mesmo tempo. Não posso perder esses fragmentos da minha vida com aquilo que me faz sofrer. Passo, então, a ver beleza nas subjetividades; beleza na construção, beleza na destruição.
Às vezes preciso escrever para que não me escape nenhum detalhe. A maior parte dos detalhes se vai, deixando o passado borrado, como um porão obscuro cheio de caixas de papelão. "Sei" o que as caixas guardam, mas me escapa o que EXATAMENTE elas contêm. Os odores misturados demandam um olfato aguçado, como de um cão de caça, mas o meu não foi desenvolvido ao longo dos anos. Pinceladas coloridas se misturam com a escuridão infestada, e o feixe de luz que vem da janela deixa o pó e os ácaros à mostra. Janela que hora é enorme, hora é minúscula; que se contrai e se dilata, como uma pupila que responde aos estímulos externos.
É o "meu" porão, onde ursinhos de pelúcia se chocam com livros desbotados e de onde tiro minha bagunça habitual. Tenho vontade de abrir minhas caixas, espiar por entre as frestas das abas, mas não consigo; me falta uma lanterna que nunca encontro. Achei que meu crachá me daria acesso ao seu conteúdo, mas apenas pude passar pela porta do porão, ultrapassei meu limite de acesso. Sento e espero. È tudo que posso fazer agora.

O Existencialismo é Ingênuo

Com toda sua inocência, o existencialista se dirige à exitência ao seu lado. Não interessa agora o que você faz ou o que acredita: já é uma potência interessante apenas por estar aí.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Às vezes, tudo que uma mente inquieta precisa é do bom e velho lápis e papel. öO"

Ah... o papelzinho.

Quão bem ele me fez, quão bem ele me faz.

Não sei o que seria de mim sem minhas anotações, listas...

Preciso pensar sobre o papel. Sempre.

O.o

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Invasão

Existe uma idéia de que a televisão molda as pessoas e controla seus desejos. Em parte, sim, molda uma opinião e mexe com o mais íntimo das máquinas desejantes: o seu desejo.

Mas a mídia é veículo, seu poder não se constitui pelo apoio popular ou por cabeças imaginárias. A interferência se dá pelo conteúdo, que dentro da nossa configuração biopolítica, é ditado por aqueles que detêm o poder; ou seja, pelos grupos de interesse que regem a política mundial.

Desde o remédio que tomamos até nossa obediência se dá por vários veículos, mas partindo do mesmo que controla o conteúdo. Essa invasão que abusa dos corpos cansados, das mentes atrofiadas e de crenças é sempre negativa: eles pensam POR você e tiram aquilo que é só seu: a liberdade.

A invasão dos corpos não se dá apenas pela ação sobre a sua vida, sobre suas escolhas individuais que remetem ao seu biológico. Ela se dá no mais íntimo de todas as suas escolhas, influenciando principalmente aquelas que tomamos automaticamente, sem reflexão.

Nos apegamos a questões mundanas distribuídas em categorias definíveis para os outros que nos limitam, tornando o outro um ser sempre hostil, ameaçador.

Nos ameaçamos, assim, com aqueles que pensam por si e também por aqueles que se deixam ser pensados. Não vamos à base, criticamos o que é visto, o que nos é mostrado.

Fundamentamos a sociedade contemporânea em valores ultrapassados e modernos, sem nos darmos conta de que não superamos esses valores por algo novo, inovador, único.

Apoiamos a soberania e as identidades de grupo, nos rotulamos para que possamos conviver e selecionamos quais convenções iremos seguir - esquecendo que ainda são convenções.

Daí me pergunto: e o indivíduo? Quem se preocupa com ele?

O indivíduo acaba sendo renegado à sua identidade de grupo, seja ela pelo sexo, cor, crença ou gosto.

Será que não entendem que provar ṕ=ṕ é mais difícil do que nossa intuição imagina?

domingo, 14 de novembro de 2010

Questões de fundamentação em dicotomias categorizacionais

Somos todos segmentados. O homem é um ser segmentário, já diziam Deleuze e Guattari. Cortado e mutilado, tendo cada íntimo seu, físico ou virtual, categorizado, catalogado e padronizado, o homem contemporâneo tem sua própria individualidade moldada, costurada. Suas subjetividades resumidas à patologias às quais buscam justificar qualquer traço de "anormalidade" da mediocridade-padrão. Conserte o defeito, elimine a doença, encubra o diferente.

As próprias marginalizações não encontram espaço senão aquele delimitado pelas categorias socias. Mascarar a percepção comum pelo politicamente correto, entretanto, essa cega crítica busca a liberdade e não tolera o que dela pode vir. Há um risco. Há sempre um risco.

sábado, 6 de novembro de 2010

LIBERTAÇÃO ANIMAL - Peter Singer

Estou lendo "Libertação Animal", famoso livro de Peter Singer.

Quero comentar um trecho do livro em particular: o trecho no qual ele narra experiências com animais que 1- torturam e matam; 2- não levam a lugar nenhum.

Sacrificar, torturar, induzir dor e patologias em animais, sejam eles de qual espécie forem, é um absurdo.

O problema é que as pessoas, enquanto especistas, só se incomodam quando é um cachorrinho, um gatinho...

Ainda não está claro...

Não sei ao certo sobre o que quero escrever nesse post.

Apenas sinto uma enorme necessidade de expressar alguma que coisa que nem mesmo sei o que é,

Preciso tentar reorganizar o pensamento.

Até logo.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Harmonia

Um sonho:

Animais fantoches fogem de mim como se fosse uma ameaça mortal. Mas eu sou. Sei que sou. Ao não escolher engajo-me num compactuar com a violência e a crueldade.

Fantoches de papelão falam comigo: primeiro uma galinha gorda com dois ovos. Ela abre o primeiro ovo e vejo um pintinho. Ela me diz: "Esse é o meu filhinho que quero cuidar." Ela abre o segundo ovo: vazio. Me diz: "Esse eu lhe dou para que possa se alimentar".

Equilíbrio e consciência.

Estava me sentindo mal, algo acerca das minhas escolhas não me deixava ser completamente feliz.

Foi então que eu percebi que estava em processo de negação, aceitação e conformismo que não me dava forças para lutar.

Não julgue nem force. As escolhas são individuais e têm seu tempo de maturação.

Tomei uma decisão para me reinventar.

Tomei uma decisão para pessoal que é só minha e que não tenho pretensões de compartilhar num discurso que possa soar lavagem cerebral.

O outro e suas escolhas, no fundo, não me importam. A não ser que ele me procure e peça uma opinião.

Não venho convencer ninguém.

Apenas não consigo mais fazer muitas coisas que antes fazia.

Penso na violência, penso nas espécies.

Não, não quero financiar nem compactuar com uma indústria que prende, mata, explora e rouba animais e humanos.

Quero trabalhar com o excesso, com a doação. Não com a falta, a carência.

Resolvi então adotar um estilo vegan. Veganismo não é dieta alimentar. É estilo de vida do revoltado.

Sem carne, sem ovo, sem leite. Sem couro, sem lã, sem mel. Sem sangue, sem dor, sem lágrima.

Quem disse que o mundo não pode ser perfeito PARA mim?

domingo, 26 de setembro de 2010

Responsabilidade sobre si mesmo

Por que o homem não pode atribuir a si mesmo sua própria responsabilidade enquanto ser existente?

Escolha?

Sim. Sempre.

A tentação mais me parece uma desculpa essencialista daqueles que não reconhecem suas próprias responsabiidades enquanto ser-aí.

E a audiência?

Palco, palco, palco...

Público que parece ter de estar ali para dar sentido à uma existência que, muitas vezes, perde as sutilezas jogadas no ar...

Escolhas e desescolhas (título não-original)

Todos os dias fazemos escolhas...

Escolhemos o tempo todo, mesmo quando pensamos que não estamos escolhendo nada. Oh! Engajamento, querido Sartre.

Como medir o impacto que uma escolha pode fazer na vida social de um ou do outro?

Talvez através das consequências ditas "naturais" que possam se decorrer de uma escolha, baseadas em projeções inspiradas, por assim dizer, em nossas experiências prévias.

Mas no fundo, no fundo... Uma escolha não implica necessariamente o futuro projetado. Esse futuro ainda é virtual. Assim, deixar a angústia de lado e arriscar me parece o melhor nesse momento.

Agora só vou fechar os olhos e não pensar muito mais.

Escolhi.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Capítulo 2

Odeio quando o sol da tarde entra pela janela trazendo um ar seco, abafado e cozido. Meu cigarro já são tem o mesmo gosto e tudo parece evaporar em um estante. Toca o telefone, Como uma fugitiva, quase me escondo ao ouvir aquele trim alto que tenta despedaçar meus tímpanos. Não sei se quero atender. Mais dois toques se passaram. Pego o teleone relutante e com minha voz falha digo um simples "alô". Me convidam para estudar, estudar o que já sei, estudar o que não me interessa. Encontrar essas pessoas não me apetece mais que um pedaço de massa crua de pão.
O outro me vê como inimigo, um inimigo cujo maior crime foi não querer se dividir, se expôr e deixar com que tocassem no seu eu mais secreto. Não ataquei ninguém, a não ser por reação ao me sentir acuado, como um animal. Tampouco tentei me aproximar: o outro não me instigou tanto assim. Quando a aproximação soa muito difícil, destoante, talvez é porque ela não deva acontecer. Me esforçar infinitamente para tentar achar uma quina de padrão à qual possa me apoiar para que se gere uma faísca de afeto irreal me soa chato e incompreensível. Não compreendo o outro e esse não pode me compreender de forma alguma. Mais que não poder: eu não o quero me compreendendo.
Se o outro me compreende ele deve ser mais confuso do que eu e seus pensamentos devem sempre se alinhar de forma completamente aleatória, embora organizada à sua própria maneira. Não desejo isso para nenhum outro. Por que eu tenho que ser julgada por saber separar as coisas enquanto o resto do mundo não?
Hoje, entretanto, quero ver todos aqueles "outros" que não se sentem ameaçados apenas pela minha existência. Hoje quero ver aqueles "outros" que entendem o que concerne a mim e só a mim e o que concerne às outras áreas categorizadas e pré-definidas da minha vida como um ser social.
Não mexam em minha potência. Deixe-me ser puro devir, só por hoje. Deixe-me exercer, só por hoje, toda minha potência de não-ser. Não me julgue. Não, hoje acho que vou encontrar outros corpos.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Capítulo 1



Levanto-me de manhã acordando sonolenta com um feixe de sol batendo em meu rosto. Estou em uma cama, cujos lençóis cor de vinho tinto se emaranharam aos travesseiros sem fronha. Estendo minha mão à esquerda e procuro, em cima do gaveteiro, em meio à uma bagunça de livros, papéis e garrafas, desesperadamente, meu cigarro. Depois de uma longa tragada, tenho coragem de me levantar.
Pego minha camisa de flanela xadrez azul em cima da cadeira e saio em direção à cozinha. Paro na sala e observo atentamente àqueles corpos semi-nus, dormindo tranquilamente e aparentando um ar inocentemente selvagem. Quase 10 corpos em um estado de semi-consciência alinham seus sonhos.
Entro na cozinha abafada e quente, tenho muita sede. Me dirijo à geladeira barulhenta, complexada por sua cor irreverente, e pego uma garrafa de água tão gelada que, no menor contato com o ar, forma gotículas em seu exterior. Bebo do gargalo, a goles largos, matando uma sede infinita e agonizante que, aos poucos, cessa. Ligo o rádio à pilha próximo à pia e procuro uma estação. Acabo me surpreendendo e, enchendo meu corpo de uma confortável náusea, escuto, encantada, tocar uma de minhas músicas preferidas. Me pego, enfim, dançando com a garrafa de água já quase morna em minhas mãos.
Sussurros vêm da sala, trazidos pelo cheiro de folhas pelo vento. Respiro fundo e, mais do que saber, sinto que é outono. Encontro uma roda de seres humanos sonolentos e confusos, todos querendo ser ouvidos e compreendidos. Esperançosos por algo que não ocorre, algo que não pode ocorrer. Como podemos compreender o outro? Como podemos nos compreender?
Algumas questões às vezes são difíceis demais, talvez possamos nos contentar com respostas simplistas ou apenas deixarmos para lá, com um sentimento de nostalgia do que nunca fomos capazes de entender.
Todos os dias acordo diferente, minha esquizofrenia latente me molda a cada acordar. Hoje não quero compreender – mas não necessariamente tenho que aceitar respostas simplórias acerca de assuntos complexos que não temos acesso. Hoje não quero nada. Hoje não quero amor, nem paz, nem experiências. Hoje apenas quero me focar num papel antropológico de me conhecer através do outro. Clichês são clichês por algum motivo e, dentro de mim e para mim, posso usá-los como bem entender. Assim como posso ser hipócrita comigo mesma e, apesar de acreditar, agir de forma completamente diferente.
Deixo todos na sala sem dizer uma palavra e me dirijo ao banheiro mal iluminado e branco como um hospital – por baixo daquela meia-luz – mas não sem antes pegar um caderno rasgado e um lápis em cima da mesa. Sento na banheira de porcelana e começo a escrever indeliberadamente. Droga! Esqueci meus cigarros. Volto ao meu quarto para buscar e ele ainda está dormindo, nu, entre os meus nem tão famosos lençóis cor de vinho.
Me distraio facilmente olhando aqueles feixes de sol batendo em suas costas, deixando à vista todas aquelas partículas que prefiro não pensar em pó e ácaros. Um gato preto entra pela janela, desastrado, e se deita ao meu lado. Ainda bem, já estava ficando um pouco preocupada com seu sumiço.
Escuto a porta da sala batendo e vou averiguar o que foi. Encontro um bilhete num papel – infelizmente, um papel comum, pautado – onde estava escrito:

Querida B.,
Te encontramos no clarão à noite.
Beijos.

Nada mais, nada menos. Até sei do que falam, mas abstraio esse pensamento. Não, hoje não quero entender. Subitamente, sinto uma certa ofensa pelo bilhete. Uma ofensa que não tomaria assim caso fosse outro dia. Senti como se tivessem apontado o dedo para o meu nariz e dissessem: Você vai nos encontrar à noite.
Não, acho que não irei. Não à princípio. Agora só tenho que me arrumar e ir trabalhar. Pego uma calça jeans, coloco uma camiseta preta por debaixo da camisa de flanela xadrez azul e calço minhas confortáveis botas verdes que lembram as botas dos militares.
Saio um pouco apressada, entro em meu carro e dirijo, ouvindo apenas os sons dos meus próprios pensamentos que insistem em me surpreender constantemente naquela tarde. Hoje sinto vergonha do meu trabalho, vergonha de estar com essas pessoas que continuam estando-aí. Algumas me cumprimentam, outras eu quero cumprimentar.
Hoje não é um dia comum. Dentro da rotina cíclica, intelectuais mascarados se escondem em meio àqueles poços de discursos infindáveis. Situações surpreendentes mas que são, paradoxalmente, comuns demais, me entediam. Tédio agonizante que me acompanha sem permissão, tédio que me faz refletir sozinha, balbuciar muitas palavras sem sentido, apenas para tentar achar uma relação menos superficial com o outro hostil.
Alguns conseguem quebrar o tédio, mas poucos – ou nenhum – conseguem quebrar o limite da liberdade. O limite da liberdade dado pelo meu pensamento. Medos e tabus me fazem querer esconder um lado obscuro. Deve ser por isso que não escrevo um livro: dividir o mais íntimo que concerne a mim é expor meu eu mais rachado, em pedaços. Esse é o nível de intimidade que me assusta.
Os outros insistem em falar comigo, em me forçar a dividir eu mesma, me tirando do meu egoísmo. Como reação, preencho as lacunas do tempo-espaço com histórias e brincadeiras, no fundo, desejando ficar sozinha. Mas um magnetismo incurável me atrai a esse tipo de relação e, assim como os opostos, me apego à elas de uma forma superficial e doente.
Não tenho mais palavras para qualquer um. O paradoxo da tentativa de me relacionar com as pessoas me fazendo querer me afastar cada vez mais delas me intriga, além de me deixar ser tomada por uma preguiça de ter que me esforçar para ter um bom relacionamento com aqueles que, no fundo, não me importam.
Dou risada daquilo que ninguém ri, sutis ironias que, se percebem, disfarçam muito bem. Rodeada pela mediocridade premiada, apenas desejo ir embora logo. Ir embora de tudo e de quase todos. Não posso esquecer daqueles que, mesmo não compreendendo muito bem porque, amo e quero estar junto.
São esses que me instigam a sentir o desejo de ser adorada, de agradar e, principalmente, de não decepcionar. Como se fosse um ser perfeito, busco alternativas, justificativas e respostas para fundamentar cada erro meu, caindo sempre no mesmo pedido de desculpas como último recurso para que não me deixem sozinha.
As pequenas frustrações do dia-a-dia não me incomodam mais. Apenas quero sair dali, ter outro emprego, mudar de cidade, mesmo sabendo que isso não mudará nada o que sinto. Me mover pela carência do que não tenho não me soa uma boa justificativa para dar vazão ao meus impulsos e à uma espontaneidade controlada, contida, planejada.
Muito já agüentei até aqui: professores, colegas, donos de restaurantes, policiais, políticos. Todos aqueles que tentaram me mudar, tentaram me moldar, não conseguiram. Dentre todas essas conexões forçadas e criadas ao longo da História desejam me enquadrar em padrões pré-definidos. Algumas eu aceito, pelo afeto. Algumas, tolero, mesmo sem entender o porquê.
Ainda me resta a minha relação com aqueles que são ligados à mim pelo afeto gerado pela impressões que tenho de suas próprias representações, além da relação que tenho com aqueles aos quais não conheço seus corpos: música, livros... intimidades expostas que procuro para tentar conseguir me identificar.
Olho no relógio redondo, com seus ponteiros que giram, inacreditavelmente, cada vez mais devagar, ao mesmo tempo que vejo o tempo correr ligeiro em frente aos meus olhos. Percebo que, finalmente, é hora de dar o fora dali, pelo menos por uma hora. Posso comer, posso ser quase eu mesma em meio a essa tarde ensolarada e quente que incomoda meus olhos castanhos. Saio desejando uma privacidade que sei que não terei. Quero conversar com uma, duas ou três pessoas que deixaram suas marcas profundas em mim, mas me vejo rodeada de rostos que, como máscaras, cobrem os atores.
Esse tempo passa rápido, incontáveis olhadas no relógio comprovam que os segundos passam mais rápido durante essa hora. Eles passam incrivelmente velozes, mas sinto como se tivesse o tempo em minhas mãos e pudesse controlá-lo. Mas não posso. É hora de vestir mais uma de minhas algemas e aceitar que preciso me trair por algumas horas a mais. Todos os dias me traio um pouquinho, mas sinto como se essa traição não fosse real. A disfarço bem para mim mesma.
Bagunço nos vinis empoeirados e me pergunto se vale a pena organizá-los de outra forma, talvez. Uma de muitas surpresas me aparece e, como mágica, melhora meu dia. Um daqueles corpos semi-nus que antes dormia em minha sala entra pela porta e vem me visitar. Uma visita efêmera, mas que transforma toda a cena ao meu redor. Ele me lembra da minha outra prisão, da prisão da mente às reproduções de discursos que alguns insistem em vangloriar e chamar de universidade.
Volto para casa nessa noite remotamente fresca, com o vento em meu rosto, bagunçando meus cabelos que, eventualmente, tapam minha visão. Penso que ameaça chover. Doce ilusão que se desfaz quando olho para aquele céu azul marinho sem estrelas, sem nuvens, sem lua. Resolvo dirigir até o clarão. Eles me conhecem muito bem. Me conhecem melhor do que eu mesma me conheço. Eles sabiam o que eu não sabia horas antes: sim, eles iriam me encontrar no clarão aquela noite.
Chego de mansinho e procuro com meu olhar periférico aquele que jazia nu em minha cama naquela manhã. Aquele dos olhos azuis e das costas largas, com suas pintinhas que formavam uma constelação que me fazia desejar, ao mesmo tempo, brincar de ligue-os-pontos e procurar um caminho por onde navegar. Enquanto cumprimento alguns com abraços saudosos, outros com acenos quase obsceno, o vejo conversando num canto, com uma lata de cerveja na mão. Abro um sorriso que, para mim, conseguiria engolir o universo. Ele sorri de volta e, como numa epifania, sei que tudo está bem agora. Independente do que acontece ou aconteceu, ele está ali, lindo e tranqüilo como um gato que se esfrega em sua perna quando te vê.
Nos abraçamos e nos beijamos longamente, como se todos os nossos problemas pudessem desaparecer naquele beijo sem fim. E eles podem. Eles desaparecem. Não quero mais pensar em nada, mas meus próprios pensamentos me traem. Eles me levam a uma direção da qual não controlo, mas desejaria controlar. Eles me prendem à todas as coisas mundanas que enfrentei e ainda enfrento.
Sentamos no chão e outros dois corpos - agora vestidos com seus casacos azulados que quase combinam - sentam ao nosso lado. Ele retira uma carteira de cigarro do bolso, enquanto acendo um cigarro que quase soa saudável ao ver ser efeito relaxante sobre mim, e tira um cigarro especial, um cigarro de ervas que me prometem relaxar a cada tragada. As risadas voltam a mim e, como mágica, todos os meus sonhos e histórias bobas resolvem se revelar.
Deveria escrever um livro, ou não. Isso não importa. Agora me divirto, esqueço de tudo que me incomoda, e lembro de tudo que ainda hei de fazer. Mas amanhã, só amanhã. Por hoje não desejo nada. Por hoje, só por hoje, não quero nada. Por hoje, quero me sentir o mais livre que posso.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Tomar consciência de si mesmo...

Me lembro como se fosse ontem...

Estava saindo do karaokê com meus pais e meu irmão... Não tinha mais que nove anos. Fui tentar abrir a porta do carro, mas assim que coloquei a mão na maçaneta, tive uma das epifanias mais intensas da minha vida.

Naquele instante eu sabia que eu era eu mesma, de verdade. Que aquela mão era minha, que meus pensamentos eram só meus.

Não tive mais percepção do tempo, nem do espaço.

Fui tomada pelo sentimento de ter consciência de mim mesma. Já não era mera representação.

Algumas pessoas riem. Mas é porque elas ainda não experenciaram nada parecido.

Nada demais

Um despertador toca. Acordo me sentindo meio zonza, que pena! tenho que sair... Levanto sem roupa da cama.

Abro a geladeira, bebo um pouco de iogurte de morango velho direto da garrafa, escovo meus dentes me olhando no espelho. Depois de uma água no corpo, coloco aquela camiseta branca e a calça do pijama que estava dormindo e saio, arrastando meus chinelos de dedo...

Começo a dirigir meu carro por aquela rua longa, reta, quase desértica.

Olho os cartazes na beira do acostamento. As eleições chegaram: candidatos sorrindo falsamente para a câmera, ao lado de seus números alucinógenos tentando hipnotizar aqueles cansados demais para perceber o truque.

Continuo dirigindo e os cartazes continuam passando velozes ao meu lado - claro, essa é apenas uma das perpectivas.

Me questiono como devo me sentir: começo pensando que a poluição visual é tremenda. Esse pensamento desenrola para a indignação de quanto lixo é produzido por esses malditos cartazes!

Penso que deveria ficar indignada com a política, me mobilizar mais...

Mas depois, quase que de repente, percebo que não importa o que eu sinta.

Essa relação entre as pessoas foi criada e está intrínseca ao indivíduo civil ocidental e a democracia representativa parece saciar a necessidade de interação interpessoal da maior parte dos indivíduos, assim como o emprego, a família ou o hobby.

De onde vem a base dessas interações?

Acho que não posso dividir muitos desses pensamentos... Melhor. Acho que não devo. Ainda não os sei expressar suficientemente para ser compreendida.

E acho que nunca saberei.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Encantos

Às vezes acho que o amor tem que ter o seu quê de imaginativo...

Não apenas no sexo picante que arde na fantasia, mas também nas ilusões infantilizadas do amor...

Imaginar que ele foi à festa sem a namorada apenas porque você chamou, por exemplo... Mesmo que no fundo você saiba que não tem nada a ver, o ego se alimenta dessas pequenas ilusões...

Um amor de 10 anos que se reencontra, uma pessoa linda que te sorri...

Passagens mágicas que encantam.

Entretanto, mais encantador ainda é ver essas ilusões se tornarem reais.

O primeiro beijo, o primeiro sussurro...

E depois... um amor.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Preciso aprender a abrir meu coração..

Falar menos, mas falar totalmente de dentro...

Oportunidades...

Somos todos esquizofrênicos. Em maior ou menor grau.


Criamos nosso próprio mundo e a realidade se perde em meio a essa criação.

Criamos as pessoas que estão ao nosso redor - quem as conhece, afinal?

Criamos a nós mesmos!

E criamos nossos sonhos, nosso futuro e o que queremos correr atrás...

Mas sempre existe um ponto em que nos deparamos com a realidade criada por todos os outros...

E acabamos por ter de aceitá-la...

Me perdoe por não querer seguir o sonho pequeno burguês da casa própria e família almoçando junta...

Não posso aceitar essa minha realidade...

Mas, nos becos sem saída, é que a criatividade e inteligência devem se destacar...

Sim, será mais difícil para mim que é para os outros...

Mas eu consigo. Não porque seja capaz, mas porque preciso.

Preciso sair da minha masmorra de realidade virtual.

Talvez seja apenas mimada. Talvez não.

Sem paciência para esse mundo dos outros que foi forçado a mim, acabo querendo me afastar.

Preciso estudar, preciso trabalhar.

E preciso dos meus amigos, ah!, como preciso.

Eles são minha conexão com minha própria sanidade, embora não pareça.

Queria apenas ter as oportunidades.

Mas já que não as tenho, terei que criá-las.

Logo após esse cigarro. Tenha um bom dia.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Porões

Chego naquele sala escura e esfumaçada. Seu cheiro obscuro me fecha as narina enquanto procuro um cigarro no bolso.

Todos estão sentados no chão. Sento-me e peço fogo. As conversas paralelas começam a invadir minha mente enquanto acendo meu cigarro.

Todos falam muito. Todos falam alto. Todos querem ter razão.

Eu costumava falar. Agora não mais. De que adiantaria?

Ninguém se escuta nessa onda incessante de monólogos.

Ninguém se agrupa, ninguém se compreende.

Como um antropólogo, observo.

Observo como se nunca fizesse isso e caio no absurdo.

Já não interessa mais.

Já não ME interessa mais.

domingo, 1 de agosto de 2010

Vontade de chorar

Por que fui ter sonhos maiores que minha realidade?

Despedida

Acordo com sono, acordo com fome.

Me viro e você dorme tranquilamente. Acendo um cigarro.

Sento-me na cama e encaro aquele corpo suado e nu ao meu lado.

Com calma, percebo que o corpo está imóvel. Uma sensação de pânico toma meu estômago e se espalha, subindo pelo meu corpo.

Verifico se respira, lentamente. Sim, o corpo ainda suspira.

Levanto-me. É hora de me vestir.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Aquela velha história...

Escrevo para ninguém...

Escrevo para mim mesma...

Adoro me surpreender e me reconhecer - ou não! - por meio das palavras...

Sorrio quando a sensação de surpreender a mim mesma me toma num instante...

Como é possível? Achei que conhecia a mim mesma... Mas tenho consciência que não...

Sou complexa até para mim mesma...

Não tente me entender...

Quem se importa realmente com o que o outro pensa?

Quem se escuta?

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Cadê a privacidade?

Nesse mundo 1984, onde conseguimos nos esconder?

What do I know about that?

Às vezes acordo me sentindo esquizofrênica.

Como ter essa percepção de mundo que é só minha?

Às vezes sinto que o mundo é um filme... Que os espiões são 007s e que o vilão está em cada esquina, mas que um dia irá aprender sua lição... Afinal, essas histórias têm que vir de algum lugar!

Mas... o que eu sei acerca disso?

Sou apenas algo indefínivel medido pelo padrão das minhas relações com os substantivos do mundo...

Oh, maldita subjetividade...

Desabafo

Sabe aquelas pessoas que te dão preguiça, que não pertencem ao seu mundo?

Sabe aquelas pessoas que de tão incompreensíveis elas te parecem que acabam parecendo ETs?

Sabe aqueles momentos que você acredita que o mundo só pode ter se aparentado de forma enganosa?

Se seus princípios são bem fundamentados, se sua confiança em si mesmo foi restabelecida, por que ainda caímos na armadilha do caos?

Sou o que sou porque assim o escolhi.

Se és o que não queres ser, então por que continuas?

Muita coisa ainda quero mudar...

Minha natureza nômade vai acabar minando todo o caminho civilizado da convivência social...

A vida é assim: bata no jeans, arrume a bota e monte de novo, cowboy!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Viajando no tempo relativo

Quando penso em Eisntein penso mais em um filósofo que em um físico. Sua teoria da relatividade me fez - e ao mundo, claro - perceber como as massas e a existencia afetam até o tempo e, consequentemente, nossa percepção dele. Entretanto, essa alteração, dentro dessa crise máxima, me parece paradoxal.

Sentimentos oriundos do reconhecimento

Que eu adoro meu trabalho não é novidade para ninguém.

Mas conhecer mais música, não focando tanto nos livros e nos filmes, é tão empolgante que quero viver dentro de uma caixa de som.

Quero expressar todos os meus sentimentos com uma música e, a medida que vou conhecendo coisas novas, sinto que tenho mais formas de expressão do que eu imaginava.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

O OBSERVADOR

1. INT/SALA/DIA


Um homem chega e deixa sua pasta/mochila sobre um sofá quebrado e sujo. Ele se dirige a uma outra porta.



2. INT/BANHEIRO/DIA


Ele se olha em um espelho de corpo inteiro, decepcionado. Tira sua calça, a vemos cair no chão. Ele tira sua camisa e a joga sobre a pia. Se olha novamente. Abre uma gaveta do armário do banheiro e tira uma caixa trancada com um pequeno cadeado. Ele pega a calça e procura a chave nos bolsos, deixando a caixa sobre a camisa. Ele acha a chave, pega a caixa e a abre. Tira a cueca que está vestindo e joga-a sobre a camisa. Tira uma meia-calça arrastão preta da caixa e começa a vesti-la delicadamente. Tira da caixa, então, sapatos pretos de salto e os coloca, apoiando-se na pia em ao lado do espelho. Tira, então, um vestido e o coloca. Finalmente, tira um batom vermelho e, olhando-se no espelho, passa-o com firmeza. Se olha por inteiro no espelho e sorri. Coloca a mão direita sobre seus órgãos genitais, se gira para se olhar melhor no espelho e começa a se tocar. Seu rosto é de prazer. Ele se olha fixamente nos olhos refletidos no espelho, sorri e geme baixinho. Toca o telefone. Ele emerge de seu transe, pega um pedaço de papel higiênico e sai pela porta limpando a boca.



3. INT/SALA/DIA


Ele atende o telefone e senta-se no sofá.


- Alô? (Ele procura um cigarro dentro da mochila, acha-o e acende). Não estava fazendo nada, não... (Pausa) Estava apenas vendo um curta. (Ele diz, tirando os sapatos, voltando à sua “realidade”)



FADE OUT

Sem Título


Sentada sozinha na calçada, abraçando os joelhos, uma mulher jovem chora. A chuva começa a cair, é fim de tarde. Os carros passam como se não houvesse nada de errado, como se o mundo seguisse um ciclo perfeito e todas as coisas estão onde deveriam estar. Não para ela. Ela chora desesperadamente. Lembra de quem foi e de quem se tornou. Lembra dos sonhos destruídos, das escolhas erradas, dos amores impossíveis e da mediocridade de seus atos. Ela se recorda dos amores da juventude tenra, das descobertas do corpo e dos sentimentos intensos, que a faziam – e ainda a fazem, em menor medida – agir drasticamente como se vivesse num palco. Como podia ter chegado a esse ponto? Já não escrevia como antes, já não amava como antes e já não sabia como antes. Suas incertezas a dominavam de tal forma que o futuro não podia existir mais. Era muito tarde para sonhar, a excitação dos anos adolescentes já não fazia mais parte do seu ser: agora ela tinha todos os dados. Infelizmente, não sabia como jogar: fez sua estratégia ainda com poucas informações sobre as regras, mas as regras agora eram outras: continham muitas exceções. Como lidar com a pluralidade de opções? Que caminho seguir? Ela precisa se levantar: precisa escolher um caminho, pois a angústia que antecede a escolha era pesada demais para carregar: era preciso escolher. Ela se levanta e atravessa a rua.

Créditos.

6 anos antes:
Uma garota linda, vestindo roupas masculinas, mas ainda parecendo sexy com seu batom vermelho, grita no meio da multidão. Tem os olhos pintados de um preto que universalmente dava ao seu olhar a sensação de infinito. Seus olhos castanhos brilhavam e seu cabelo raspado remetia aos soldados que víamos nos filmes. Uma boina vermelha escorregava de sua cabeça e conversava com seu batom. Ela pára e percebe que aquilo não podia ser subversivo o suficiente: era muito clichê. Estudantes universitários manifestando em grupo? Onde estava a arte? Onde estava as atitudes chocantes? Ela não compreendia mais. Tudo parou de fazer sentido. Ela, então, sai, calmamente por entre a multidão e acende um cigarro. Ela pensa: “Foda-se, eles ainda não entenderam nada.” Agora ela compreendia, talvez não como deveria ser compreendido, mas, à sua maneira, tudo estava errado, nada certo, e, talvez por isso, tudo estava certo, nada errado. Aquilo que nada entendemos, que nos parece estranho, não nos deixa moldes de como agir. Ela não queria moldes. Ela menosprezava os moldes. Querendo ser si mesma, caindo sempre em clichês. Não dá mais.

2 anos depois da cena anterior:
Sentada sozinha com seus livros, no chão, de pernas curazadas, rodeada de seus melhores companheiros por todos os anos de sua vida, livros e mais livros no chão, ela acaricia calmamente as páginas amarelas procurando uma passagem para reler. Acendendo um cigarro de maconha, dá uma tragada longa, profunda, que chia o ambiente silencioso. Um gato preto se aproxima e ela o acaricia sem tirar os olhos do livro que está no colo e dando mais uma tragada. Ela apaga o cigarro de maconha no cinzeiro sujo com uma das mãos, enquanto acaricia o gato com a outra. Finalmente acha o que procurava, pega um bloco de papel todo riscado e copia no papel alguma coisa. Se levante e vai até a uma mesa, onde um abajur velho e com luzes fracas ilumina uma máquina de escrever velha. Ela copia a passagem digitando cada letra vagarosamente, saborando o gosto das palavras que saltavam aos poucos: É... T... U... D... O... U... M... A... Q... U... E... S... T... Ã... O... D... E... I... N... T... E... R... E... S... S... E. Ela acende um cigarro, que está da mesa um pouco amassado, com seu Zippo prata todo riscado pelo tempo. A campainha toca. Ela se levanta e vai atender a porta. À porta, uma garota mais ou menos da sua idade e um homem barbudo, mas jovem, trazem às mãos sacolas. Ela cumprimenta primeiro a garota com um beijo na bochecha e um oi longo e agudo. Elas se abraçam e a jovem entra. Então, ela dá um beijo na boca do jovem de cabelos desgrenhados e olhos azuis como o céu. Ela sussurra em seu ouvido: “oi, amor...”. Ele entra e ela fecha a porta.

Puxando-o pelo braço, eles passam pela mesa onde está a maquia de escrever. Ela pega, então, o isqueiro e um incenso. Acede, coloca num buraquinho feito em uma lata de refrigerante amassada, deixa-o sobre a mesa e se junta aos outros dois no chão, encostados na parede.



Flashback: relacionamento aos 13 anos com um homem mais velho. (Ela passa por um grupo de 4 homens relativamente jovens, eles se olham pela primeira vez... Ela encontra uma amiga, dá uma risadinha e sai rebolando com seu uniforme. Se cruzam depois e ela diz oi com um sorriso espetacular, convidativo e sedutor, ele responde sem graça, discretamente. Ele a segue. Ela chega à uma piscina e senta-se na borda. Acende um cigarro e ele chega. Pede um cigarro, o acende e se senta ao seu lado. Conversam amenidades – como está o tempo, blá, blá, blá – ele se vira até ela e, com uma das mãos, coloca uma parte de seu cabelo para atrás, olhando-a fixamente. Então, a beija, primeiro com ternura apóia seus lábios nos seus e, então, a beija com desejo e puxa-a mais para si.

Flasfoward: antes do casamento, uma semana com seu primeiro amor.

Representações

O que conhecem de nós mesmos?

Conhecem a imagem... Atrasada pela luz!

Eu mesma só conheço minha imagem. Sendo apenas uma representação... Quem sou eu?

Se um animal que convive apenas com humanos tem crises de identidade, por exemplo, como funcionam minhas crises de identidade no meio das pessoas com quem convivo?

Sou aquilo que os outros vêm em minha representação que por sua vez é determinada por mim pelas minhas impressões das representações de outros.

Conhecer a mim mesma é algo que me parece inatingível a priori.

Minha representação pode ser baseada nas imagens alheias, entretanto, quem sou eu apenas pode ser definido pelo meu conhecimento interno. Confiar nos princípios que criei para mim mesma, mesmo tendo consciência de que esses princípios muitas vezes estão aliados à experiência externa, é o que posso tomar como uma régua que traça meu caminho e, assim, também traça o eu.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

Trabalhar em uma livraria...

Tem algo mais perfeito para um amante das páginas delirantes que trabalhar em uma livraria?

Nos meus íntimos delírios, trabalharia em uma pequena livraria em alguma cidade bem romântica, cercada de gatos e pilhas e mais pilhas de livros.

Meus clientes seriam caricatos: como que se tivessem acabado de sair de um filme ou saltado das páginas de um romance clássico. Alguns se pareceriam com detetives, outros, com náufragos.

Uma coisa uniria a todos: a paixão pelo mundo imaginário. Aquele mundo imaginado, que encanta e existe apenas virtualmente.

Às vezes me pego me imaginando na livraria da Audrey em Funny Face. Doce ilusão que pinga nos lábios e segue até a mente.

Hoje em dia trabalho em uma grande livraria onde muito do que acredito pode ser posto em prática.

Tocar e estar perto dos livros, dos filmes e das músicas que fazem o mundo ser como é hoje ainda me parece extraordinário.

Todos os dias aprendo algo novo, todos os dias me impressiono com algo que não sabia sobre mim mesma.

E todos os dias acordo e me pego pensando: não posso me tornar a louca dos gatos cuja única companhia, além da desses animais misteriosos e sedutoes, seria a arte.

E às vezes me pergunto: se terminasse assim, seria todo ruim?

domingo, 18 de abril de 2010

terça-feira, 23 de março de 2010

Sonho de Criança

Lembro-me bem da vontade que tinha de aprender a ler. Adorava as curvas e retas que compunham as letras e achava sobrenatural o fato de as unirmos e formarmos palavras que expressavam sentimentos, objetos, nomes... 
Desde pequena sou apaixonada por livros: suas histórias fantásticas me levavam a um mundo que só poderia conhecer através da imaginação. Nunca entendi o porquê das outras crianças não partilharem minha paixão, mas elas podiam jogar videogames e eu, não.
Desde o primeiro momento em que comecei a ler as aventuras de Monteiro Lobato e O Sítio do Pica-Pau Amarelo penso como seria ser um escritor: moraria numa casa azul em meio a um bosque apenas acompanhada de meus animais, papel e caneta.
É triste quando se vê que seus sonhos de criança se despedaçam a cada dia que vivemos e que não posso mais voltar completamente àquele mundo que era só meu; e dos meus amigos-personagens.

segunda-feira, 22 de março de 2010

Encontros



          Andava sozinha de volta para casa depois da escola. Meu uniforme azul que cobria todo o meu corpo tinha o emblema do colégio católico em que estudava bordado em cinza. Nunca entendi a preferência sombria dos uniformes de escolas católicas pelas cores neutras e escuras. Parei na esquina de casa e meu coração disparou quando vi ele passar em sua moto negra a toda velocidade por mim. Lembro, ainda, do barulho ensurdecedor que me acelerava o coração todas as vezes depois daquele momento. Cheguei em meu prédio e, ao entrar no elevador, lá estava ele, em pé, sorridente, vestido com sua jaqueta de couro preta e calça jeans; o capacete estava em uma das mãos e, se eu soubesse o quanto aquele bom dia mudaria minha vida, talvez tivesse sido mais educada. Subimos juntos, ele desceu no segundo andar e eu, no terceiro. Havia me mudado há poucos dias para esse novo apartamento com minha família e o colégio novo apenas tornava pior minha adaptação. Todos me pareciam tão diferentes do que deveriam ser. Tinha 13 anos, na época, então, o luto não demorou muito, embora no momento parecesse interminável. Alguns dias depois já havia feito ao menos uma amiga.
          Convidei minha nova amiga para almoçar em minha casa num desses dias. Depois do almoço, resolvemos descer e ir até a piscina do prédio para tomar um sol e dar uma refrescada na água.Coloquei meu biquini vermelho bordado, um vestido branco por cima, e descemos. Não havia ninguém na piscina, mas a quadra estava cheia e, com o passar das horas e a noite caindo foi ficando cada vez mais. Resolvemos, então, assistir ao jogo de futebol que vários garotos estavam jogando. Foi quando o vi novamente. Ele me olhou, sorriu aquele sorriso largo, e voltou a jogar. Não conseguia disfarçar o frio na minha barriga, afinal, ele não parecia ter 15 anos. Voltei para casa como se nada tivesse acontecido e dormi um sono profundo povoado por passeios beira-mar.
          Por dias nos esbarramos pelos corredores e, entre sorrisos, nos encontramos, algum tempo depois, no salão de jogos do prédio, onde ele me convidou a jogar uma partida de sinuca com ele. Estávamos sozinhos e conversamos por horas: ele tinha 22 anos, fazia faculdade e pilotava uma moto. Era tudo que eu precisava saber, na época, para me apaixonar. E, pela primeira vez, até então, na minha nova vida amorosa, me senti extremamente insegura: como ele poderia olhar para uma criança como eu? Quando perguntou minha idade, resolvi mentir e disse que iria fazer 17 anos em pouco tempo.
          O primeiro beijo só veio semanas depois, quando já nos falávamos corriqueiramente, além de nos encontrarmos quase todos os dias. Bastava ouvir um barulho de moto pela janela que já o esperava aparecer na janela. Seu quarto era logo embaixo do meu e, assim que chegava, se pendurava na janela para me cumprimentar. Muitas vezes estava lendo um livro, outras, assistindo a algum filme. Então, um belo dia ao final do verão, cheguei da escola e o encontrei me esperando sozinho na piscina. Ele estava sentado na borda, ventindo apenas uma bermuda clara e, quando me viu, abriu aquele sorriso que me encantara semanas antes no elevador. Sentei-me ao seu lado e dei-lhe um beijo no rosto. Ele segurou meu rosto com uma das mãos e, delicadamente com as pontas dos dedos, colocou meu cabelo atrás da minha orelha. Deu-me um beijo que nunca esquecerei: seus lábios roçaram nos meus lentamente e me entreguei completamente. O beijo durou uma eternidade e, de repente, ele se afastou e me disse ao pé do ouvido: "Não via a hora disso acontecer". Continuou me beijando quando caímos na piscina. Meu uniforme azul estava todo molhado e, entre gargalhadas, ele me disse que tinha que ir embora. Saímos da piscina e subimos juntos pela escada, parando degrau a degrau para nos beijarmos.
           No dia seguinte, logo que cheguei da escola, corri até a piscina. Lembro do meu coração batendo rápido enquanto corria e, de repente, senti-o parar. Segurei a respiração por um breve período.  Ele não estava lá. Por meses assim o foi: de tempos em tempos ele aparecia, nos falávamos, nos beijávamos loucamente, nos escondíamos pelas escadas, mas sempre que eu chegava, corria até piscina e ele não estava. Em um desses dias, uma amiga me convidou para conhecer seu novo namorado em um jogo de futebol em um prédio próximo ao meu. Cansada de esperar, fui.
          Ao chegar, mirei os dois times: em um, os jogadores jogavam com camisa, em outro, sem. A bola era branca, mas, de tão suja, aparentava ser marrom. Então vi um dos jogadores sem camisa: um jovem lindíssimo, que minha amiga disse que gostaria de me conhecer. Ele era dois anos mais velho que eu. Depois do jogo, ela me apresentou a todos os amigos de seu namorado. E ele, tão lindo sem camisa, colocou uma camiseta, me cumprimentou, pediu desculpas e disse que ia tomar um banho.Estávamos tomando um picolé de limão na padaria que ficava na esquina e ele apareceu: de banho tomado, parecendo um deus grego. Tinha cabelos loiros, olhos verdes e uma boca rosada que continha um sorriso doce. Começamos a conversar e ele se ofereceu para me levar até em casa, já que estava ficando escuro. Fomos caminhando até chegarmos próximos ao prédio em que morava, onde ele me puxou e me beijou. Era um beijo bom, mas não era o beijo do meu primeiro amor. Mas, ao menos, ele se mostrava interessado por mim.
          Começamos a sair freqüentemente, ele me buscava na escola, me levava presentes e se dizia extremamente apaixonado. Evitava ao máximo que ele fosse até meu prédio, já que meu amor poderia estar lá. Meus esforços foram em vão: num dia claro de primavera, ele apareceu com um presente para mim. Meu amor estava com amigos na porta do prédio e, assim, não pude disfarçar. Nos beijamos e fomos para a piscina, o lugar que nos daria mais privacidade. Estava tensa e ele acabou percebendo isso. Pediu desculpas, disse que não poderia estar com alguém que ele iria pedir em namoro se essa pessoa não se sentia da mesma forma. Me senti horrível. Mas quando ele saiu, meu amor veio conversar comigo. Estava com ciúmes e acabmos brigando por infantilidades.
          Meses depois, nos encontramos e resolvemos conversar. Racionalmente, começamos a ficar cada vez mais próximos. Brigas corriqueiras atrapalhavam um pouco, até que veio a notícia de que deveria me mudar novamente. Achando que eu tinha alguma responsabilidade sobre isso, ele resolveu nunca mais falar comigo. Durante anos fui apaixonada por ele, mas com o tempo, novos amores surgiram na minha vida, novas emoções, novas confusões. Acabei o esquecendo, mas não completamente.
          Até que veio aquele e-mail. Um e-mail tímido que fez meu coração disparar: "Oi, gostaria de saber por onde andas. Beijos. T.". Sabia de quem era. E sabia o que aquilo significava. Mas estava noiva. Respondi, recatadamente, dizendo que estava bem e estava noiva. Ele me respondeu que era casado e estava esperando o nascimento do primogênito. 10 anos depois! Arrepiada não sabia o que fazer.





Nos encontramos dias atrás... Um encontro rápido, frio e distante, que recolhia todos os pêlos de nossos corpos para disfarçar a ansiedade...

Não nos beijamos, nos comportamos... Estávamos expostos pela luz do Sol, sem fuga da nossa realidade cotidiana ou a lua para nos proteger.

Estávamos sós. Entretanto, haviam tantos outros conosco.

Eles não haviam ido dormir ainda. Não ainda.

Talvez num dia menos fugaz possamos estar a sós. Finalmente.


Máscaras de Athena



  1. EXT./NOITE/GRAMADO

Uma jovem, de aproximadamente 20 anos, sentada na grama com um chapéu preto no cair da noite acende um cigarro. Ela observa os galhos da árvore à sua frente, que se movem com o vento. Ela tira o chapéu, o coloca de lado e sente o vento em seu rosto. Dá uma longa tragada em seu cigarro. Um gato passa à sua frente e se aproxima dela, curioso. Ela está chorando, mas sorri quando ele se aproxima. Ele se assusta com algo e corre, pisando em seu chapéu. Ela o observa correr atenta a seus movimentos. Parece pensativa e concentrada. Ela começa a escutar vozes cantando baixo, se levanta e começa a caminhar. Apaga o cigarro no chão e olha para o lado, onde vê uma grande fogueira e jovens dançando. Eles vestem túnicas em tons claros e de tecidos leves e jogam sementes e frutas na fogueira. Ela se aproxima e os jovens a convidam para dançar. Alguns vestem máscaras de coruja. Ela se senta ao redor do grupo que dança, os observando. Uma jovem muito bonita se aproxima dela, senta a seu lado e pede um cigarro. As duas acendem seus cigarros com fósforos.


PROTAGONISTA

- O que vocês estão fazendo?


JOVEM

- Estamos adorando Athena e Dionísio. É um movimento de libertação dos corpos.


Um outro jovem, então, puxa essa linda jovem para dançar, que puxa nossa protagonista. Eles dançam ao redor da fogueira, riem e o dia começa a amanhecer. Ela se despede de todos e vai embora.



  1. EXT./DIA/CORREDORES ABERTOS



Os jovens que participaram do culto estão conversando cada um com seu grupo de amigos quando a protagonista passa pelo corredor. Ela sorri para eles enquanto passa. Eles sorriem de volta e continuam a conversar com seus grupos.

O Lugar Perfeito para Ler


          Quando era pequena, me imaginava lendo livros embaixo de árvores grandes, grossas e escuras, assustadoras, até certo ponto, mas protetoras com suas copas infinitas. A grama seria verde e macia e o tronco encaixaria perfeitamente minhas costas culminando no local perfeito para imaginar. Mas nunca foi bem assim. Durante anos procurei o local perfeito para ler: aquela árvore que foi designada a mim. Algumas vezes acreditei que tinha achado algo, mas todas as vezes voltei a minha decepção inicial. Algumas tinham formigas demais, outras, grama de menos, e ainda algumas que se descascavam em minhas costas. Comecei a pensar, então, qual irrealista me parecia essa ilusão: apenas em filmes, em desenhos animados e na minha mente as pessoas parecem ter o local perfeito para ler. 
          Mas ainda precisava de um lugar que pudesse ler. Tentei dentro do ônibus, mas todas as vezes que o motorista freiava, acabava tendo que voltar ao início do parágrafo e, ao final de 2 horas, não havia lido nem 10 parágrafos. Estaria tudo bem, mas não estava lendo Saramago naquele dia. Então tentei o banco na praça em frente à minha casa.Era fim de tarde e a iluminação me parecia perfeita. Fiquei sentada lá lendo por uns 20 minutos até que escureceu e voltei para casa para jantar. Acordei cedo no outro dia, peguei meu livro e saí correndo pela porta. Cheguei ao banco e algo não me parecia mais certo. A iluminação tinha mudado. Mesmo assim, insisti e sentei no banco. Abri o livro na página marcada com um clipe vermelho. Por alguns dias, foi um local perfeito. Mas às vezes as babás sentavam no meu banco para conversar enquanto as crianças brincavam, às vezes jogavam uma bola em mim e, quando vi, não era mais tão tranquilo assim.
          Com o tempo, fui me acostumando com o hábito de ler em minha cama antes de dormir. Meus pais nos mandavam cedo pra cama e, quando não tinha sono, ficava lendo até adormecer. O que, muitas vezes, surtia o efeito contrário: eu me animava e não queria dormir até terminar o livro, ficando horas acordada. Comecei, então, a ler e estudar sempre na minha cama: era confortável, podia mudar de posição à qualquer hora, alguns travesseiros serviam de apoio e a luminosidade podia ser controlada por mim. Ainda hoje me pego de bruços na cama lendo com os pés para cima, como eu fazia aos 5, aos 10, aos 15 anos...

Is anybody there?