Aquele vento que soprava na porta do sobrado amarelo, jogava as folhas que anunciavam uma mudança iminente. Em meio àquelas palavras de humor, sorrisos encantados jorravam no ar. Como se o universo quisesse que permanecessem enfeitiçados, lançou uma brisa para tranquilizar o abrupto amanhecer. Ainda vadios, vagavam sérios em seus pensamentos esclarecidos pela luz que o Sol trazia.
Mas em um verdadeiro conto de fadas, mesmo que efêmero, a magia não pode ser destruída, acabar pura e crua, interrompida pelo tempo causador da sua própria construção. Novamente o universo, vendo a despedida que se delineava, interveio com suas águas geladas, tentando impedir que o Sol se manifestasse; acabou forçando todas as criaturas a se esconderem.
Exaustos e embriagados, seus corpos repousam no colchão macio, enrolados nos panos que encobrem as entranhas e esquentam os pés descalços. O silêncio adentra o espaço, separando os olhares que se evitavam, receosos, naqueles segundos infindáveis. Na fragilidade do instante, os desconhecidos poderiam arruinar o que a noite construiu. Nada esperavam, não se via movimento algum.
Do toque inesperado, dedos tímidos passeiam pelas peles contraídas. Numa busca iniciada de uma nova magia percebida, materializou-se uma excitação ocultamente platônica. Naturalmente, os corpos invadidos pelo feitiço agora reconhecido se entregavam, ao mesmo tempo tranquilos e afoitos.
Uma poeira cósmica forra os lençóis desgrenhados, enquanto o dia não é mais impedido de nascer. Carinhos trocados não semeiam a terra e, enfim, o mundo volta a seu eixo. O encanto se transforma em lembrança e os encantados, amigos como nunca sonharam.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Delire...